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"œAmazônia Negra"| Artista vem a Teresina lançar exposição fotográfica

As imagens são de autoria da fotografa Marcela Bonfim e fazem parte do projeto (RE)Conhecendo a Amazônia Negra: povos, costumes e influências negras na floresta.

17/08/2018 09:39

Chega a Teresina, nesta sexta-feira (17), a mostra fotográfica “Amazônia Negra”, que faz parte do projeto (RE)Conhecendo a Amazônia Negra: povos, costumes e influências negras na floresta. As imagens são de autoria da fotografa Marcela Bonfim, que veio de Rondônia a capital piauiense para o lançamento da exposição. Em entrevista exclusiva ao O DIA, a fotografa fala um pouco sobre a história deste projeto e sobre as 33 imagens escolhidas para a amostra, que no campo da antropologia visual, expõe a memória da população negra amazônica.


Foto: Poliana Oliveira/ODIA

Marcela Bonfim comenta que as imagens expostas são o resultado de seis anos de história, contabilizada desde a sua mudança de São Paulo para Rondônia. “Em 2012, sem emprego, decidi comprar uma bicicleta e uma câmera, com a qual estou até hoje. Diziam que eu parecia uma barbadiana, fui atrás e descobri que os barbadianos foram uns dos primeiros imigrantes a virem para Rondônia durante o período de construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. E me pareceu interessantíssimo. Assim conheci eles, suas histórias e a cidade”, conta. 

Para a fotografa, as imagens são importantes para os brasileiros conhecerem o Brasil. “As imagens mostram uma realidade quem muitos desconhecem. Há pessoas, por exemplo, que não sabem que existe quilombos em Rondônia. A questão quilombola lá é muito invisibilizada. Sendo que na cidade há quilombos reconhecidos inclusive pelos Palmares. E isso faz parte da nossa história. O negro não é assunto só de negro, inclusive, é assunto de branco”, afirma.

Segundo Marcela, cada imagem tem um significado importante, além de representar uma bandeira de luta. “Uma criança negra que nasce no Brasil hoje, nasce com cerca de 300 anos de luta na história. Ela já nasce embranquecendo. Cada imagem tem a sua estética, sua importância. Para o mundo da arte, no mundo da fotografia. Mas, também tem seu aspecto no mundo da militância. Estamos trabalhando com gente, com histórias que a narrativa oficial não privilegia”, disse.


Foto: Poliana Oliveira/ODIA

Algo que chama atenção na exposição, é a impressão das imagens em madeira. Sobre esse ponto, a fotografa explica que uma experiência pessoa lhe levou a essa escolha. “Durante uma conversa, perguntei a mulher como ela se reconhecia. Com orgulho, ela se reconhecia negra, passava a mão no braço e afirmava, “isto aqui é madeira de bater em doido”. E essa frase entrou na minha cabeça de uma forma muito séria. Aí quando fomos montar a exposição eu decidi. É um processo sabe, é uma caminhada”, explica.

Marcela revela ainda que a fotografia serviu como um instrumento de descoberta, não apenas da Amazônia. “Até os 25 anos de idade, eu tive muita dificuldade em me aceitar como mulher negra. Então o passo que eu descobria a Amazônia negra, eu ia me descobrindo também. Quando cheguei em Rondônia, só queria um primeiro emprego em economia. Acabei me descobri uma pessoa curiosa no mundo e com possibilidades nesse campo que se chama arte”, finaliza.

Edição: Maria Clara Estrêla
Por: Geici Mello
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